quinta-feira, 29 de maio de 2008

Homofobia e Religiosofobia

Homofobia e Religiosofobia

A origem da expressão "opinião pública" está envolta em mistério. Na literatura da Grécia e Roma antigas, bem como ao longo da Idade Média, os filósofos tinham inteira consciência da importância da opinião das massas. A frase "voz populi, vox Dei" data da última parte da Idade Média. Foi só no século XVIII, entretanto, que se submeteu a expressão opinião pública a uma análise e tratamento sistemáticos. Durante os séculos XVII e XVIII escritores como Voltaire, Hobbes, Locke e Hume pagaram o seu tributo à força da opinião pública. 1 CHILDS, Harwood L. Que é opinião pública.

Existe hoje uma grande preocupação na opinião pública e na mídia sobre a questão da homofobia dentre outras preocupações bioéticas e sei que com Igreja estamos muito despreparados para a discussão mais plena destes assuntos no meio evangélico e fora dele.

Os cristãos Brasileiros não tem tido articulação suficiente ( pelo menos em algumas agendas) para discutir com sobriedade tanto as questões morais quanto as questões bioéticas da realidade contemporânea. Em contraponto existem agendas em relação a todos estes assuntos fora do ambiente da Igreja. Estas agendas são muita vezes defendidas por diversos movimentos pós-modernos bem articulados que propõem o relativismo completo e atacam todo e qualquer movimento que os desafie intelectualmente na mídia. As reações dos teólogos e crentes denominados de “fundamentalistas”, em geral pouco profícuas, a estas situações, apenas demonstram que existe uma necessidade de se formular respostas a estes desafios.O problema que talvez algumas pessoas não estejam se apercebendo é que a questão Lobista em relação à homofobia deve ser lida dentro do contexto político institucional e também espiritual. Qual a forma justa e ideal de discutir estes assuntos sem correr o risco de ser preso, ou mesmo de ser rotulado de homofóbico? Infelizmente não existe uma fórmula.

Declara-se na mídia (a grande criadora de mitos) como se a Homofobia fosse “doença diagnosticável”, descrita cientificamente e aceita de forma homogênea em todos os círculos científicos antes de haver quaisquer endosso de pesquisas realmente científicas a cerca de tal doença. A argumentação utilizada na discussão defesa da chamada lei da homofobia precisa ser a mesma justificativa utilizada pela questão racial, tomando como exemplo a questão das cotas nas Universidades. Da mesma forma que o fato de algumas pessoas discordarem da proposta de lei que advoga as cotas para negros(as) nas universidades ou mesmo em empregos não os torna imediatamente “racistas”, assim as pessoas que discordam da lei da homofobia não os torna homofóbicos. Nem sempre tudo é motivado por ódio reprimido, mas na maioria das vezes motivados as discussões são provocadas pela diversidade de opiniões, porque se assim o fosse deveríamos mandar prender todos os membros do congresso nacional.

Segundo a wikepedia ( único lugar com descrição mais “científica” que encontrei desta referida doença na internet ) (...) “O insulto homofóbico pode ir da difamação, injúrias verbais ou gestos e mímicas obscenos mais óbvios até formas mais sutis e disfarçadas, como a falta de cordialidade e a antipatia no convívio social, a insinuação, a ironia ou o sarcasmo, casos em que a vítima tem dificuldade em provar objetivamente que a sua honra foi violentada.”(...) 2.

Este não me parece ser o tipo de atitudes generalizadas adotadas pelos cristãos ou pelas igrejas em relação aos homossexuais, esta atitude antes mais me parece a descrição de um programa televisivo de humor que debocha abertamente dos gays com os caricatos estereótipos dos homossexuais ( que não provoca nenhum tipo de reação aberta dos movimentos GLS na mídia.)

Por este motivo não creio ser possível admitir que pessoas sejam chamados(as) de homofóbicos(as) apenas por discordarem da chamada "lei da homofobia", em especial como está redigida nesta letra, uma vez que esta doença ali descrito é uma “doença” que afeta uma minoria da sociedade em um país que advoga a liberdade de expressão pelo Estado de direito.

É fato concreto também afirmar-se que os homossexuais representam uma minoria da sociedade. Pode a minoria regulamentar pela maioria? Teria a minoria direito de silenciar a maioria cristã ou secular deste país sob qualquer alegação ou pretexto inconstitucional? Acredito que oferecer direitos especiais a um grupo de pessoas que adotam uma postura sexual específica, vai gerar um fato “discriminatório” em relação às outras pessoas da sociedade ( Maioria). Em um futuro qualquer grupo poderá pedir “direitos especiais”. Por algumas pessoas terão direito de estabilidade de emprego maior? Porque poderão demonstrar sua expressar e manifestar seu afeto em locais públicos quando existe na lei a questão da moralidade? Se eu for impedido de beijar minha esposa em local público ( como já aconteceu em um Shopping) poderei processar também o shopping? Estou incluído nesta proteção? E se eu for perseguido por patrão gay? Se ele(a) me demitir por eu não ser homossexual ou não concordar por motivos religiosos com a homossexualidade? Pode ele me demitir? A lei vai valer para os dois lados?

Acredito que a proteção desta comunidade de pares cuja dignidade não deve ser ferida, não pode ser feito a revelia, utilizando-se de ataques a outras comunidades e grupos ferindo também as suas dignidades próprias sejam estas comunidades religiosas ou seculares. Todos os grupos necessitam respeitarem-se uns aos outros.

Esta chamada lei da homofobia poderá duas vertentes resultantes sociais, caso aprovada. Da mesma forma que abre um precedente para a "perseguição" no melhor sentido da Santa Inquisição àquelas pessoas que discordam da lei da homofobia, também em breve fornecerá instrumentos para os perseguidos (maioria da população) processarem a todo e qualquer cidadão e ou cidadã que os chame de forma pejorativa de "homofóbicos", uma infame doença crônica que ameaça até mesmo a integridade física ou moral de outras pessoas inocentes. Mesmo que tal doença venha a existir dentro do CID e ainda que diagnosticada através de perícia de profissional de saúde devidamente habilitado, restará uma pergunta; não teriam os portadores deste grave distúrbio de serem protegidos pelo sigilo profissional pelo motivo da honra e integridade nos mesmos moldes dos direitos humanos que os soropositivos têm, e outros portadores de distúrbios mentais ou quaisquer moléstias e pelo código de deontologia médica pelo sigilo profissional ? Não teriam também eles direito ao diagnóstico e tratamento digno e suporte psicológico como qualquer doente, ou devem ser rotulados e monstros e condenados as masmorras?

O fato de ser religioso e não praticar a homossexualidade não me torna homofóbico. Em breve não ser homossexual corre o risco de se tornar um "pecado social". Existe uma necessidade premente neste tempo que a mídia evangélica, invocando sua liberdade de expressão da mesma forma que a mídia secular, continue nessa intermediação com os demais colegas e outros debatedores do assunto a buscarmos, quem sabe, uma melhor abordagem da questão que ainda está longe de ser respondida. As ciências naturais e sociais mudam a cada dia e suas proposições não podem mais ser consideradas com a única e melhor forma de se conhecer o mundo e a realidade. A mesma ciência biomédica que já afirmou absurdamente que homossexualidade era “aberração” agora nos afirma que é gênero.

O mesmo cidadão norte americano que introduziu nos Estados Unidos o conceito de irreversibilidade da homossexualidade em 1974 na Associação de psiquiatria Norte Americana, Dr. Robert Spitzer, liberou há alguns anos atrás um polêmico estudo sobre a possibilidade de reversão. Como confiar na agenda de um cientificismo tão inconstante? A terra já foi redonda, quadrada, oval , fechada aberta com as mais diferentes explicações científicas sobre o mundo em que vivemos. A epistemologias e antropologias não sabem aonde ancorar o conceito de saber e pesquisa, e dentro das propostas da ciência contemporânea (...) Somos induzidos a crer, e a não colocar em dúvida nossa crença, que os constructos científicos são retratos de uma realidade existente per se, e que refletem totalidades(...)."3

As ciências na forma que existem hoje de certa maneira formataram e influenciam a nossa forma de ver o mundo, antes observado por lentes e perspectivas religiosas foram transformadas por processos de secularização. No passado as orientações religiosas suplantavam as explicações naturais ou científicas porque havia falta de explicações razoáveis em relação ao que se considerava realidade. Hoje vivemos no famoso e admirável mundo novo previsto por Max Weber do “desencantamento” e explicado somente pelas ciências.

Entretanto por causa de diversas agendas ocultas dentro das “ciências” sem dúvida alguma acontecem reações exacerbadas por parte da ala cristã fundamentalista que acaba por tratar todos os homossexuais e ativistas gays como "farinha de um mesmo saco", talvez como uma reação de mesma monta e intensidade em relação às acusações de que os líderes religiosos sejam ignorantes fanáticos pelos movimentos sociologicos/antropologicos descontrutivistas pós-modernas.

A “Santa Inquisição” e seu meio irmão “Desencantamento Iluminista” têm conseqüências práticas na vida global através de nossa herança dialética greco-romana através do dualismo, da dúvida metódica , do ceticismo relativista e da característica de observar o mundo através de modelos arquetípicos *( Tarnas) acabaram por resultar em reações fundamentalistas facilmente observados hoje em dia nos jornais .O filosofo do século XX já falecido Ernest Gelner comentou com lucidez diversos assuntos da pós modernidade em especial o ressurgimento do fundamentalismo afirmando que (...)"Os relativistas tendem, de fato, a se apresentar completos, com auréola e tudo mais, e a expor seu ponto de vista não apenas como solução de um problema, mas como símbolo de excelência moral. (...)"

Em relação a religião (...) O slogan invocado, então, passa a ser "Na casa de meu Pai há muitas moradas". A insistência em um monopólio da verdade era um erro estranho à fé e nela não tinha lugar, como me explicou um desses ilustres relativistas absolutistas.(...) a reivindicação do caráter único ela verdade é um erro de um observa­dor externo,(...). Essa obrigação de propagar o evangelho parece ter sido parte integral do próprio evangelho. Se isso é um erro, então os missionários estão, todos eles, profundamente errados a respeito de sua própria fé. O que acontece as fés religiosas que incluem o proselitismo como obrigação? Estarão isentas da nova tolerância relativista? (...) 4-Gelner

Homossexualidade e pecado.

Na sociedade civil não existe pecado. Pecado é uma condição religiosa. Alguns grupos religiosos não adotam a transfusão de sangue, doação de órgãos, dentre outras coisas. Na sociedade existem crimes, direitos e deveres. Atualmente a sociedade clama ser laica, aliás, este é o brado dado no congresso e no tribunal superior. Entretanto em uma sociedade pluralista laica deve haver liberdade e democracia. Nossa constituição reza que somos livres para escolher nossa fé.

Entretanto existe uma agenda disposta a acabar com todos os valores que forma estabelecidos antes dela. Será que este movimento será capaz de acabar com toda a formação da cosmovisão do mundo cristão,ocidental? Vejamos um profeta do pós modernismo a falar Raul Seixas: “O Novo Aeon é um desses momentos em que a natureza e a ordem dos tempos determinam uma nova e fantástica mutação dos valores antigos. Fim da política careta. Cada qual é seu próprio dono e juiz, livre pra fazer e dizer o que nasceu pra ser. É o NOVO. 
Um ponto de vista que destrói todos os conceitos e valores mantidos até hoje sem nenhum sucesso visível. Outra concepção de viver, da arte, da ética, religião, política inexistente, deus, amor. Baú do Raul” 

A religião cristã, entretanto a despeito de suas mudanças e adaptações culturais contemporâneas apresenta algumas características “inegociáveis”. A união estável de homossexuais ainda que liberada pelo judiciário e pelo legislativo, precisa ser diferenciada do conceito de matrimônio religioso. As religiões institucionais como Judaísmo e cristianismo que usam o fundamento bíblico religioso não podem ser forçadas a realizar um casamento não estabelecido nas escrituras, porque estas milenares escrituras são invioláveis e anteriores ao presente século e ,usando uma analogia com o direito, matrimônio é um “direito adquirido” há milênios pela Igreja e de forma nenhuma poderá ser confundido com “união civil estável”. Naturalmente que se este for um “direito” civil. Que seja feito dentro dos ditames da moral, caráter único do ser humano e que nos diferencia dos animais.

Agora finalmente alguns movimentos minoritários querem criminalizar no Brasil as diferenças de opiniões, criando a semente da intolerância reversa. Ou seja, em breve poderá se tornar crime quem achar que homossexualidade não é uma opção sexual correta para a sua vida. O que não pode ocorrer é a interferência externa de pessoas que desejam mudar a religião estabelecida durante milênios. Dentro de nosso convívio, ou seja dentro do meio religioso, podemos e temos o direito de afirmar o que “cremos”. Ninguém é obrigado a entrar em nossos templos para ouvir e se converter. Da mesma forma ninguém é obrigado a servir nas religiões afro-brasileiras, nos templos Budistas ou espiritismo kardecista etc. O que for ali pregado, ensinado e estudado é de fórum pessoal. Pois de acordo com a constituição “ é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;” e também é ‘VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”

Pela atual constituição artigo 5 - XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; Por isso os movimentos GLS têm perante a lei civil o mesmo direito de fazer sua “parada Gay” como nós temos direito de fazer uma “parada cristã” pra promover nossos valores sem que haja necessidade de ataques frontais ou provocações em uma sociedade reconhecidamente “pluralista” mas ter o direito de declarar sua fé em Cristo.

Talvez precisemos redefinir liberdade de imprensa e de expressão nestas terras Tupiniquins. Talvez a nova definição de liberdade de expressão seja “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, dependendo da licença que a inteligentsia brasileira desejar permitir”.

Os demônios contra os quais lutamos hoje são dialéticos na razão, positivistas na práxis, pós-modernos no discurso e cartesianos na retórica, mas invariavelmente evolucionistas na fé. Todos bebem da mesma fonte ilusória darwinista cientificista que influenciou tanto o positivismo da “ordem e progresso” com tendência capitalista (que tanto influenciou a inteligentsia brasileira do século XVIII) quanto a dialética materialista que prevê um inevitável futuro “progresso do mundo”. A maturação da discussão moderna ainda nem terminou e a nova perseguição aos cristãos se configura como intelectual. Ainda existiria lugar para a escatologia na agenda cristã em meio a todo este caos filosófico social? Que futuro teremos?

Será que isto não seria mais a manifestação de uma nova doença a ser descoberta pesquisada e diagnosticada? A religiosofobia?

Um Abraço em Cristo

Wilson Bonfim


“Ti 6:20 ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado, evitando as conversas vãs e profanas e as oposições da falsamente chamada Ciência

Bibliografia

1-http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/opiniaopublica/0110.htm

Publicação original: CHILDS, Harwood L. Que é opinião pública.

In: _____. Relações públicas, propaganda e opinião pública. 2. ed.

Rio de Janeiro: FGV, 1967. p. 44

American Psychiatric Association. (2000). Position statement on therapies

focused on attempts to change sexual orientation (reparative or

conversion therapies). American Journal of Psychiatry, 157, 1719–

1721.

Beckstead, A. L. (2001). Cures versus choices: Agendas in sexual reorientation

therapy. Journal of Gay and Lesbian Psychotherapy,

5(3/4), 87–115.

Hooker,E. (1957). The adjustment of the male overt homosexual. Journal

of Projective Techniques, 21, 18–31.

Jones, S. L., & Yarhouse, M. A. (2000). Homosexuality: The use of

scientific research in the church’s moral debate. Downers Grove,

IL: InterVarsity Press.

Shidlo, A.,&Schroeder,M. (2002). Changing sexual orientation:Aconsumers’

report. Professional Psychology: Research and Practice,

33, 249–259.

Archives of Sexual Behavior, Vol. 32, No. 5, October 2003, pp. 469–472 (°C 2003)

Reply: Study Results Should Not Be Dismissed and Justify Further Research on the Efficacy

of Sexual Reorientation Therapy Robert L. Spitzer, M.D.1;2;3

2- http://pt.wikipedia.org/wiki/Homofobia

3- SOAR FILHO, E. J. . Psiquiatria e pensamento complexo. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 25, n. 2, p. 318-326, 2003.
Palavras-chave: epistemologia; pensamento sistêmico; pensamento complexo; interdisciplinaridade.
Grande área: Ciências da Saúde / Área: Saúde Coletiva / Subárea: Saúde Mental / Especialidade: Psiquiatria.
Grande área: Ciências Humanas / Área: Filosofia / Subárea: Epistemologia / Especialidade: Pensamento Complexo.
Referências adicionais: Brasil/Português; Meio de divulgação: Impresso; Homepage: www.revistapsiqrs.org.br; ISSN/ISBN: 0101108.

4 -Antropologia e Política
Revoluções no bosque sagrado Zahar editora

Ernest Gellner 14- 15,

5- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

6 (ainda não foi confirmada por nenhuma associação ou sociedade de profissionais de saúde ou descrita no CID esta doença)

* Tarnas

“Uma vez que a perspectiva arquetipica aqui esboçada proporciona um bom ponto de partida para entrarmos na visão de mundo grega, e porque Platão - cujo pensamento se tomaria a base mais importante para a evolução da cultura ocidental- foi seu mais proeminente teorico e apologista, começaremos por discutir a doutrina platônica das Formas. Nos capítulos seguintes, acompanharemos 0 desenvolvimento histórico da visão grega como um todo; depois a complexa dialética que levou ao pensamento de Platão e dai passaremos as igualmente complexas conseqüências que dele emanaram. A visão dos mundos dos gregos ( Epopéia do pensamento ocidental Tarnas )” Pág 19

Um comentário:

Hellen disse...

Texto esclarecedor!